Renê Monico - Oito Elementos Sustentabilidade - junho-2018                                                                                                                                                                                                                                                                                                                

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DOA-SE LIXO! VOCÊ AJUDA OU EXPLORA?

 

 

 

 

Para início de conversa vamos falar sobre cidadania. Cidadania nada mais é que o “exercício dos direitos e dos deveres”, e não é raro, as ocasiões em que exigimos, bradamos, reclamamos dos nossos direitos que não são atendidos, mas via de regra pouco nos atentamos se cumprimos com todos os nossos deveres.

 

E o lixo que geramos é sim responsabilidade nossa! De cada um de nós, e enquanto pessoa física temos a obrigação de não descartar o lixo em qualquer lugar e de no mínimo separar os resíduos que podem ser reciclados.

Precisamos enxergar além do nariz e entender que aquele lixo que geramos vai gerar impactos, positivos ou negativos, dependendo da decisão que tomamos. O óleo jogado no ralo da cozinha, por exemplo, pode entupir o encanamento, proliferar ratos e baratas, entupir a rede de esgoto das ruas, vai matar a vida aquática nos rios, represas e mares, vai aumentar o custo de tratamento de água, e obviamente, como a onda do mar, esse custo da negligência volta para nós.

 

E aí nós estamos em casa e temos um pouco de entulho de uma pequena reforma, e aparece um “carroceiro” que pede R$ 20,00 para pegar o resíduo e descartar, e aí, o “carroceiro” pega todo o material vira a esquina e despeja ao lado de uma escola. Outras pessoas veem aquele entulho, despejam mais lixo, que podem chegar à boca de lobo, acumular água e atrair o mosquito da dengue, entre outros problemas. E passamos em frente à escola no dia seguinte para deixarmos nossos filhos lá e reclamos, quanto lixo, esse governo não faz nada.

 

Olha, essa história parece absurda, mas isso ocorre frequentemente com as empresas. Não necessariamente literalmente, mas analogamente.

 

Nós da Oito Elementos realizamos intermediação de resíduos, e para tal, nos certificamos de que as empresas recebedoras vão reciclar, tratar ou destinar adequadamente, tanto do ponto de vista da legislação como das práticas.

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E vez por outra recebemos telefones e e-mails de empresas que desejam “doar resíduos”. resíduos esses que são responsabilidade delas, de destinar adequadamente evitando todos os impactos negativos. E aí para coletar, separar, tratar e destinar, há uma série de custos evidentemente. Então não há como fazer muitas coisas de graça.

 

Mas aí a empresa diz, além de ajudar eu tenho que pagar?

 

Ajudar? Mesmo?

 

Vamos lá. O resíduo é de responsabilidade da empresa, não precisa ser gênio para entender isso, já que foi gerado dentro das dependências da mesma. E aí a empresa quer se livrar da responsabilidade e tem uma ideia de gênio, vou doar.

 

E olha temos muitos exemplos, o mais comum é de materiais recicláveis. Sim, materiais recicláveis tem valor, desde que separados por tipo, cor, limpos, e uma infinidade de outras variáveis que tornam o material apto de ser valorizado, senão, não pagam 1 litro de gasolina.

 

E então, a empresa diante do fato de ter de pagar para ter o seu resíduo devidamente tratado, opta por “alternativas” que realizam esse trabalho gratuitamente, e dizem, estamos ajudando.

 

Está ajudando ou explorando?

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Quais as condições de trabalho dessas pessoas que retiram? Elas se protegem de acidentes? Ganham o suficiente para terem uma vida digna? O veículo que eles utilizam estão em condições de realizarem esse trabalho?

 

Evidente que não!

 

Não há como conseguir essas condições dignas recolhendo lixo de graça, isso é subemprego. E não estamos aqui tentando competir com essas “alternativas”, não somos uma empresa, portanto não é nosso foco, mas se querem ajudar verdadeiramente, devem remunerar adequadamente essas pessoas.

 

Assim seria ajudar, e não explorar!

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Qual a sociedade estamos construindo com essa mentalidade? Em toda relação é essencial a TROCA.

 

RELAÇÃO GANHA-GANHA não somente nas cadeiras das faculdades, e sim na prática. Relação ganha-ganha cria um movimento com fórmula de potência, progressão geométrica, e a onda vai voltar e vai nos beneficiar de alguma forma.

 

E é simples entender isso. Nesse momento de crise no Brasil, em que pessoas voltaram a passar fome, cozinhar com lenha, que os semáforos estão com disputa de espaços de pessoas vendendo coisas, para onde foi o dinheiro que não faltava há 4 anos? Essa riqueza não desapareceu, ela simplesmente parou de circular, e está represada em alguns locais específicos que não vem ao caso.

 

E nesses momentos de crise também somos surpreendidos por empresas que com negócios em todas as áreas, querem realizar projetos para coleta de materiais para nos venderem.

 

Dizemos então: “Mas vocês não são uma faculdade? Mas vocês não são uma rede de supermercados? Querem vender o óleo de cozinha deixado pelo consumidor ? Mas você não ganham dinheiro vendendo cursos? Vocês não ganham dinheiro vendendo produtos?” Não, não compramos.

 

“Ah, querem fazer um projeto socioambiental em que vocês vendem e a gente compra?” Não, não compramos. Não isso não é parceria, não é ajuda, é comércio, e comércio é comércio.